Na sinfonia da vida

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A vida parece estar parada. Os dias correm lentos, não acontecem surpresas, tudo é muito previsível. Nenhuma ansiedade e nenhuma vontade de se mover no espaço. O olhar perdido no trânsito barulhento e nervoso não consegue fisgar a ponto de se ter qualquer reação. Penso que há algo errado, que essa apatia é anormal. Ao voltar para a bolha solitária, no entanto, percebo que há mais a aprender com isso. É um período de pausa, que antecede a próxima ação, porque enquanto há vida, há movimento. É neste intervalo, insignificante para o tempo, que nos preparamos para os novos ciclos.  Se bem observamos a vida, tudo isso faz parte do ritmo, o mesmo que rege o pulsar de nosso coração, do sol ao átomo. No universo tudo vibra e esse princípio se aplica a nossos pensamentos, sentimentos e desejos.  Quando a vida está parada é quando mais me aproximo do ritmo universal. Isto é harmonia. Da bolha em que me encontro posso perceber o mundo e me harmonizar com as leis cósmicas. Dessa experiência posso voltar firme e resoluto para cumprir mais uma etapa de movimentos frenéticos.

Não há nada pronto, apenas um ritmo a ser cumprido, cuja pausa é marcada pelo tempo que levamos para entender o que acontece em nós e à nossa volta. Na imensidão do universo, não estamos no centro. No microscópio, somos uma massa rodopiante de átomos. Pensamentos, sentimentos, palavras, ações fazem parte desse mar de energia,  de forma que o que penamos, sentimos , dizemos e fazemos, em algum momento, nesse ritmo circular, volta para nós para criar nossas realidades.  O bom é que podemos entender que somos capazes de criar um mundo de paz, harmonia e abundância em torno de nós. É a combinação de todos os pensamentos e ações de todos que cria a consciência coletiva. Portanto, devemos nos engajar em ações que apoiam nossos pensamentos, sonhos, emoções e palavras. O ritmo também estabelece as estações, fases de desenvolvimento e padrões. Cada ciclo que vivemos reflete a regularidade universal.

Gabrielle Roth, no livro Ritmos da Alma, descreve nossa jornada ao longo de cinco ritmos –  o fluente, o staccato, o caos, o lírico e a quietude -  como uma maneira dinâmica de libertar o corpo e fazer manifestar o coração, desanuviando a mente. Assim, os ritmos são catalisadores de um profundo movimento da psique, constituindo-se de ferramentas práticas para o despertar, “que nos libertará para dançar até atingir o limite, para sermos extravagantes, para transformarmos o sofrimento em arte e a arte em conhecimento. O fluente lida com os mistérios femininos. O staccato explora os mistérios masculinos. No caos, somos desafiados a integrar esses princípios na corrente de nossa energia pessoal. O lírico é o ritmo do transe, da autorrealização.  Na quietude, a mãe de todos os ritmos, procuramos dentro de nós o vazio e nos refugiamos nele”.

 

Quando falamos em ritmo é normal que a primeira associação que façamos seja com a música. O tempo, na música, está relacionado à pulsação e não ao som em si. A pausa é um intervalo de silêncio. O tempo organiza o acontecimento sonoro, independente do ritmo. Além disso, o tempo define quando a música começa e quando ela encerra. É o ritmo, no entanto, que organiza os sons e as pausas sonoras no tempo.  Ele diz, musicalmente, quanto tempo vai durar um som ou uma pausa. E quando a música começa a existir o tempo passa a ser medido. Dentro desse período que se mede o evento musical, o acontecimento do som ou pausa é, normalmente,  dividido em ciclos, classificados no ritmo musical.  Pausa na música, silêncio na psicanálise, sempre com a função de destacar algo e preparar para o que virá.  A própria concepção de silêncio já comporta em si um aspecto dual, já que se fundamenta na presença e ausência de sonoridade, sendo que uma não existe sem a outra. Sem som não há silêncio, e sem o silêncio não seria possível conceber a sonoridade. Tudo a ver com a música de nossas vidas. Como compositores  sabemos que a pausa não significa que a melodia terminou.  Uma pausa na vida é importante para recomeçar, para refletir, para planejar.

 

Paramentos

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