Sabedoria, força e beleza

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Adquirir a arte de ouvir é o primeiro sinal de que caminhamos em direção à sabedoria. Há mais conteúdo e simbolismo nesta virtude que o simples fato de saber. Os verdadeiramente sábios tem a palavra como uma pedra preciosa, que não pode ser esbanjada e que vem sendo lapidada pelo tempo. Sabedoria traz embutida a justiça, a tolerância, a humildade, a compreensão, sem contudo, deixar de se expressar em decisões firmes. Sabedoria é também errar e admitir o erro, é ter uma proposta de emenda, de atenção, de consciência de sua própria humanidade – a despeito das boas intenções. Pode parecer paradoxal, mas a arte de ouvir, nasce do silêncio. É necessário  silenciar os ruídos interiores e a tagarelice, para ouvir o que o outro tem a me dizer. Cessar os ruídos interiores, não quer dizer para não ouvir a voz interior. Até essa voz que vem de dentro, para ser ouvida, precisa do silêncio.  É no silêncio que a palavra do poeta toma forma. É no silêncio, que toda semana, sento-me diante do computador, na tentativa de partilhar com leitores um pouco daquilo que vou coletando na vida.

Aqui falo sozinho. Alguns me leem, mas não interagem, não ouço suas concordâncias ou discordâncias. Como os dois velhinhos que se visitam toda semana, ficam horas juntos e não dizem uma só palavra, não porque não tem o que dizer, mas porque  o que trazem para a partilha não cabe em palavras. Ainda assim, o poeta tenta,  porque a magia está nos intervalos silenciosos que há entre as suas palavras. É nesse silêncio que se ouve a melodia que não há. Não é tão difícil entender que as pessoas não aprenderam a ouvir e, menos ainda, a falar de outra coisa que não seja de si próprias. O olhar reflexivo só tem serventia se for usado como espelho, para clarear a caminhada interna. O mundo quer falar. Todo mundo quer falar. Mas será essa a verdade? Será que o mundo não quer ser ouvido? A sabedoria reside na inversão dessa afirmativa. Na realidade, todo mundo quer ser ouvido. Rubem Alves fala sobre a arte de ouvir, como sentido para a aprendizagem, com grande propriedade. Um escritor, que vive de palavras, mas que entende que elas são apenas guias para ouvir o silêncio.

Mas não vamos desviar do assunto inicial. A sabedoria, que começa com o saber ouvir, está relacionada à reflexão, reserva, discrição, paciência e é representada pelo princípio feminino, receptivo, materno e, como tudo, dual/binário. Equivale a conflito no sentido de rompimento com a unidade. Representa, portanto, a primeira etapa dolorosa e imprescindível das vias iniciáticas. É o começo da busca de identidade, do equilíbrio, que a repartição elementar das forças produz no conflito. Simplificando ainda mais, é o reconhecimento prévio da luta entre a luz e a sombra. Mãe, esposa celeste, senhora do saber esotérico, a sabedoria ocupa o lugar da porta, da passagem entre o exterior e o interior, do ponto imóvel e comum entre a casa e a rua. Nas escolas de mistérios a sabedoria é uma qualidade para a mestria.

O ponto de reflexão para hoje fica exatamente na compreensão da sabedoria e no objetivo  de ser mestre da própria vida. Na regência  e conciliação competente de todo antagonismo . É caminhar de forma segura, com diplomacia e tato para liderar e governar. Conquistar a mestria é um êxito legítimo, um  avanço por merecimento,  que vai muito além das ambições injustificadas, da megalomania, da falta de talento ou consideração. As conquistas reais e verdadeiras não são conquistadas pela força bruta, pelo poder apenas.  Por isso a força também é simbolizada por uma mulher – a palavra é feminina – que por sua fragilidade física é como se sua presença fosse uma lembrança que a virtude está na força moral, na autodisciplina e na coragem.

 

É obrigação do ser humano buscar a felicidade e já falamos aqui que a felicidade não está em cumprir o padrão, nascer, crescer, estudar, trabalhar, casar, ter filhos, acumular riquezas, morrer. Muitas vezes a felicidade está na compreensão e visão da beleza da vida. Para aprender a viver é necessário romper velhos hábitos,  renovar  ideias, total ou parcial, na certeza de que  tudo se  transforma,  como um fenômeno catalisador ou um corpo novo que modifica totalmente a ação do corpo atual. Apoiamo-nos então, para escrever este artigo, no tripé – sabedoria, força e beleza – com a perspectiva de que essa simbologia, todas representadas pela sensibilidade e delicadeza do poder feminino, sirva de base para o fortalecimento da família e das relações humanas, como resultado direto dos valores que cultivamos.

 

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