O indivíduo e o bem comum

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A maneira como orientamos nossas escolhas define as respostas que o mundo nos dará. Simples como plantar uma goiabeira e saber que o fruto que vai produzir será goiaba. Essas analogias simplórias, populares até, encerram verdades profundas,  passíveis de encontrarem terreno fértil em qualquer coração, sem qualquer erudição. Por mais que nos pareçam simples,  há corações tão endurecidos que nada parece tocá-los. Protegem-se dentro de verdadeiras muralhas para depois reclamarem que a vida torna tudo difícil, que as dificuldades são sempre maiores que as facilidades, que os preços que pagam são sempre mais caros que o da maioria. E são. Justamente porque se escolhe percorrer o caminho mais árduo e solitário. É a lei do retorno: assim como vai, volta.

Temos tendência a não querer nos ver como realmente somos e, quando muito, temos sobre nós mesmos um olhar generoso, que nos leva a acreditar que somos melhores que a maioria, que somos genuinamente bons. Mas não adianta apenas pensar. O universo não é hipócrita: exige  ser.  Pensamentos e ações devem caminhar juntos na mesma direção e não adianta achar que podemos enganar a invisível, inefável, onisciente, onipresente e onipotente  energia cósmica. O reflexo ou a sombra de nossas atitudes não se escondem em artimanhas do ego. Pode-se conseguir até mentir para si mesmo, mas isso não muda a realidade daquilo que é.  Ao longo desta caminhada em busca de autoconhecimento observo que as pessoas falam de uma maneira e agem de outra, e isso é tão humano, que raramente me surpreendem. E quando constato isso, percebo sombras em mim. Reconhecer as próprias sombras me permite lutar contra elas e aspirar ao aprimoramento da alma. Não preciso ser bonzinho para me entender, preciso ser verdadeiro.

Por outro lado, aquela pessoa de coração endurecido, que pensa ser autêntica, que se fecha em sua redoma e não permite aproximações, se vê privada de validar seus pensamentos na vida real. Isolada, torna-se incapaz de ver as próprias sombras, não tem no olhar do outro o espelho que precisa para se desvencilhar da hipocrisia de sua humanidade. Torna-se triste, amargurada, intolerante. Detenho-me, então, a uma frase de Confúcio: “Como é cruel o homem que se resume à sua vida privada e não tem compaixão dos outros!”  Paz, liberdade, plenitude, felicidade, amor, são princípios universais e estão acessíveis a todos os seres humanos –  como cidadãos, pessoas  e profissionais. A base de nossos princípios é construída no seio da família e, em muitos casos, ela se perde no meio do caminho. O mundo tende a valorizar mais a aparência que a verdade.

A busca do autoconhecimento muitas vezes indica um caminho solitário, de silêncio, que não deve ser confundido com o isolamento. Entendemos que,  ao despertar nossa consciência,  o contato com o outro já  não é tão fácil, não somos compreendidos como gostaríamos, e por isso buscamos a companhia daqueles que nos são afins. Ou podemos nos isolar, arrogando nossa superioridade em relação aos demais, o que, sem dúvida,  colocaria uma pedra pesada e difícil de ser removida em nosso caminho. Ao mesmo tempo, o mundo parece estar adequado à dualidade do ser e à dicotomia de nossas ações. Incentiva o individualismo e leva o homem a se opor a tudo que é coletivo. Confunde as escolhas.  Conhecer-se ainda é a melhor orientação para nossas escolhas. O demônio não nos é visível, ele nos espreita em nossos pensamentos e basta um minuto de desatenção para que se instale em nossas percepções e oriente a nossa escolha. Ele não nos parece feio, está sempre travestido do bom, do belo, do ideal. São as nossas dúvidas,  e não as nossas certezas,  que nos motivam a buscar o aperfeiçoamento.

 

Talvez seja este o momento certo para mudarmos o comportamento e/ou a linha de raciocínio que vínhamos seguindo. Infalivelmente temos que nos desvencilhar do antigo e encarar o novo e desconhecido de frente, sem medo, ainda que estejamos errados. Pensar primeiramente na coletividade que em si mesmo, com certeza, não é uma característica natural do ser humano. Todos nós somos egoístas por natureza e, por isso, o conceito de bem coletivo precisa ser trabalhado dentro de cada um de nós como uma virtude. Seja como for, milhões de pessoas em todo o planeta se doam diariamente em prol do coletivo, compartilhando sua individualidade e acreditando nas mudanças.