Em momentos de grande dor

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A conexão com a consciência cósmica é algo que se tem que buscar pela prática disciplinada de exercícios e períodos de meditação. Esvaziar-se de si mesmo é um processo, não acontece  de uma hora para outra, ou por acaso. Exige constância,  pureza de propósitos e, acima de tudo, convicção  para desistir no meio do   caminho. Entretanto, quando mais precisamos, essa conexão parece falhar. Ficamos horas a dar voltas em torno dos problemas e de nós mesmos, sem conseguir ter um vislumbre da luz que poderia mudar o  curso de nossos pensamentos. Isso porque é difícil descolar a luz da sombra. Elas andam juntas,  e a predisposição - interior orienta nosso olhar. Mergulhados na escuridão não conseguimos prever onde o próximo passo nos levará. São momentos de extrema solidão, não temos a quem recorrer e se o fazemos nos sentimos estranhos, as pessoas não falam mais a mesma língua,   não compreendemos e nem nos sentimos compreendidos.

Todos, em maior ou menor grau, passamos por isso um dia, e ao emergirmos desse mergulho profundo em nossa escuridão, nos sentimos, de alguma forma, mas fortes, mais seguros, mais sábios.  Difícil não é emergir, difícil é estar nessa noite negra sem saber o que fazer. Somos testados em tudo, mas nossa convicção é que vai determinar o tempo das sombras. Ela pode ser curta ou longa, tudo dependerá de nós, do entendimento e das lições que aprendemos. Importante saber que não somos  submetidos a nenhuma prova enquanto o mestre interior não nos considere preparados para ela. Durante o período de preparação recebemos não apenas as teorias, mas somos instrumentalizados para buscar a saída. A visão pode ficar embaçada, mas em algum ponto recebemos os óculos que enxergam na escuridão. Resignação, paciência, confiança são instrumentos importantes na senda, além do entendimento de um tempo que não pode ser medido em  horas, dias ou meses. É o tempo da compreensão.  Quanto mais rapidamente entendermos, mas depressa o tempo vai passar.

Esta é, talvez, a fase mais complicada no processo de autoconhecimento. Quando a vida  nos cobra por ações que nem mais nos lembramos, quando perdemos de vista as coisas que amamos e/ou acreditamos, quando somos abalados em nossa fé, tudo isso nos provoca dor intensa. A tendência mais natural nesses momentos é de desânimo, mas também de revolta, de ressentimento, de sensação de injustiça. O fato de não sabermos o que provoca determinadas situações na vida não significa que estamos abandonados à nossa própria sorte, ou mesmo que estejamos sendo injustiçados. Na natureza, sorte ou azar, tem um significado que precisamos buscar. Não teremos a compreensão de tudo,  mas certamente, teremos uma lição em cada circunstância. Por isso  não adianta  muito buscar apoio nos outros, o caminho e a saída é particular. Cada um de nós terá que descobrir seu próprio caminho, utilizar as ferramentas internas que dispõe, confiar em suas percepções.

Pode parecer incoerência, principalmente, quando procuramos nos agrupar em sociedades fraternas. Não queremos estar sozinhos, entretanto, sentimo-nos mais sós do que nunca. Participamos do social, mas o interior não é partilhável e, não raro, são os próprio fraternos que provocam nossos testes. Como explicar isso?    Na realidade não estamos sós. Há uma egrégora que nos mantém e nos protege, dividindo o peso de nossas experiências. Só que ela não é visível, mas é a força que encontramos nos momentos de angústia e de indefinição. Só não podemos nos esquecer dos objetivos que guiaram nossos primeiros passos, porque eles darão a orientação para os próximos. Entender ainda que se nossos objetivos foram  (ou são) obscuros, trarão reflexos e consequências no entendimento que teremos.

Há uma única verdade, mas a humanidade ainda não chegou à verdade absoluta e o que move e define muitas das situações que vivemos é a lei da ação e reação. Se pensarmos e agirmos positivamente, certamente, colheremos resultados positivos. Antes teremos que passar pela purificação de nossos pensamentos, desejos e objetivos.  A noite negra da alma tem a vantagem de nos indicar que há uma saída, todos nós podemos planejar uma nova vida interior. O que acontece na vida externa é apenas um reflexo daquilo que foi traçado por nossa mente. Nunca é tarde para reconhecermos nossa humanidade e imperfeição para podermos trilhar com brilho e retidão o caminho da perfeição e da justiça.