Sob o domínio do medo

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Inícios de ano são excelentes momentos para planejar mudanças  em nossas vidas. O ambiente de esperança e solidariedade permite afastar os pensamentos negativos, o desânimo e o medo. No entanto, é lamentável observar que para muitos,  o medo é tão forte que inibem até mesmo os planos futuros. Há, sem dúvida, aspectos do medo que podemos chamar de prudência, mas o medo em si é o que barra todo crescimento, toda experiência e toda realização pessoal.  Falamos aqui daquela sensação que nos coloca em estado de alerta, que nos faz sentir ameaçado, que compromete a convivência social e provoca sofrimento psicológico. Muitos desses medos surgem do aprendizado, por exemplo,  foi brincar com um cãozinho e foi mordido. Instintivamente essa pessoa pode conservar o medo de cachorros.  Outros parecem ser comuns a todos os seres humanos e, possivelmente, registrados em nossa herança genética por um processo evolutivo de sobrevivência da espécie.
O sentimento inverso ao medo é a coragem. A pessoa destemida que não se deixa intimidar por situações ou outras pessoas, que enfrenta os desafios, motiva-se a ir além,  e rompe as barreiras do medo.  Rompe as barreiras do medo. Isto quer dizer, que o homem corajoso também sente medo, mas se nutre do que a coragem tem de positiva para lutar e enfrentar os problemas.  Neste caso, coragem é ser coerente com seus princípios a despeito do prazer e da dor. O lado negativo da coragem se associa ao mecanismo de poder. O corajoso tem poder sobre o medroso.  E isso se evidencia nos comportamentos cotidianos. É comum constatar que o poder se assenta sobre o medo e a ignorância, seja esse poder familiar, político, econômico ou religioso, ou ainda, todos eles se interligando em determinados momentos.

A prática do poder está associada permanentemente à instauração do medo como forma de institucionalizá-lo  na forma psíquica, ética, moral, coação, coerção, e, consequentemente,  dar legitimidade às classes dominantes.

 

Falando coletivamente, claro fica que o poder que se utiliza do medo estabelece uma relação de dominação bem distante da democracia e, em sua maioria também se associa à violência e a eficazes métodos de subjugação social. Assim, esvaziam-se os direitos políticos dos cidadãos e dissemina a despolitização das sociedades.  Igualdade, Liberdade e Fraternidade jazem no arcabouço ideológico.  Em um nível mais particular, porém não menos importante, está o poder no sentido da expressão pessoal, de afirmação de nossa identidade no mundo, da exposição pública de nossos talentos e capacidades.  Situação em que a autoconfiança se torna elemento essencial  para que o exercício do poder não se degenere.  Pode parecer estranho, mas pessoas inseguras de sua própria capacidade e competência, ao assumirem posições de mando, comportam-se como verdadeiros tiranos, mantendo sua posição á custa da ameaça e intimidação. Não cabe aqui explicar suas razões ou seus problemas psicológicos. É apenas uma constatação.

 

O que se adequa a este artigo é o medo de errar.  Sem autoconfiança, a possibilidade de erro não é uma hipótese provável, mas a única alternativa que vê como possível.  E quanto maior o medo,    mais rapidamente atraímos para nossa vida aquilo que tememos.  Quem tem medo, está cercado de inimigos, com bem disse Fernando Marques:        “ Não vê beleza numa árvore, porque acha que ela lhe pode cair em cima da cabeça. Não se entrega a uma paixão, porque percebe o amor como sofrimento. Refugia-se na sua fortaleza individual e prepara-se para responder aos ataques. Porque o medo apela ao conflito. Chama-o. Deseja-o. Só assim pode obter a confirmação de que é real e necessário." Em nossa constante busca pela justiça e perfeição, lutar contra o medo e a ignorância é,  talvez,  a principal meta a ser alcançada para atingir o ideal. Junte-se a essa luta outros ingredientes como a prudência, o equilíbrio, e valores éticos.