Aqui e agora

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A dualidade que permeia nossa existência aqui na Terra é responsável, muitas vezes, pelo desânimo de promover mudanças. Nunca sabemos se o que teremos depois é para melhor ou não. Entretanto, se olharmos para trás, no sentido de compreender a história, a nossa história de vida, veremos que mudanças são sempre para melhorar algum aspecto de nossas vidas, ainda que pareça o contrário. Por exemplo, um rico empresário faz um mau negócio e perde tudo. Se a vida dele se resume ao ter tudo, ele realmente está sem alternativa, mas se ele entende que não tinha tudo e que ainda pode adquirir o que não tinha, a vida começa a ter outro sentido. Ter tudo não significa apenas poder comprar tudo. Existem coisas que não se compram e que, no entanto, não essenciais à qualidade de vida. A saúde é uma delas. O dinheiro pode lhe proporcionar tratamento, mas não garantir saúde. E assim, todas as outras coisas que tornam as pessoas ricas e felizes, sem se prender ao “ter tudo”.  O final nunca tem surpresas. Todos terminarão passando pelo mesmo processo: a morte. O que pode variar é a condição como se chega ao final. Alguns, com a consciência de uma vida bem vivida encaram a morte com serenidade, outros com revolta, por não terem conseguido atingir a meta de simplesmente ser.

Então, aqui e agora, por mais efêmero que possa ser o presente, é tudo que temos. Aqui em que o onde é indefinido e o agora não é quando, mas um tempo feito de instantes, de tal forma que viver o presente é uma arte. Vivemos atordoados com milhares de pensamentos que não nos levam a nada, são desnecessários e ainda dificultam os processos mentais valiosos proporcionados a partir do silêncio interior e que faz aflorar o bem estar profundo, a sensibilidade, a serenidade, a criatividade, a leveza e a sabedoria. Antes de mais nada,  é necessário estar preparados para o desconhecido, despir-se das preocupações, ideias e estratégias de driblar a vida. É necessário consentir física e energeticamente ser carregado pela corrente de luz que orquestra o processo de ascensão, sem a compulsão do controle. Isto nos parece zen demais para ter aplicação prática. Realmente, a dualidade que tudo permeia, mostra  outro lado, o da alienação. A questão é que,  se por um lado, viver pensando na morte, pode nos tornar mais introspectivos, espiritualizados, desapegados, generosos e até mais felizes, por outro podemos nos entregar ao ostracismo, ao desânimo, à total falta de vontade e disposição para viver.  Basicamente os desequilíbrios acontecem quando o ser humano se afasta da  própria essência e de seu propósito de evolução. A presença interna tudo sabe, e nós, só continuamos a nos ignorar por medo de ousar a dar o passo certo.

Afirmar o que é certo ou errado já é uma ousadia. Quem pode garantir o que é certo ou errado? O ser humano é complexo demais para ser visto apenas sob o aspecto de certo ou errado, existem infinitas possibilidades e circunstâncias que podem comprometer uma análise conclusiva. O tempo promove mudanças e até então o que podemos dizer que é eterno é, entretanto, algo que não podemos pegar, medir ou pesar. O Absoluto é incriado, inefável e sem nome. A verdade é que não existe uma receita a ser seguida. Os estudos dos filósofos ajudam a compreender determinados instantes, e muitos, extrapolam limites de tempo e espaço. Assim, por exemplo, Aristóteles, em sua obra Ética à Nicômaco – a exposição da ética aristotélica dirigida a seu filho Nicômaco –  aborda três tipos principais de vida: a felicidade  gerada  pelo princípio e satisfação dos prazeres, as honrarias e benesses da vida política e   a vida contemplativa. Ele considera a primeira bestial e escrava, a segunda duvidosa, pois tanto essa honra pode ser como uma concessão do público, como um atestado    reflexo de virtudes pessoais e, portanto variáveis em sua consistência.  Em relação à vida contemplativa, o filósofo dá a ela o sentido da busca da felicidade e afirma que não se deve esperar a morte para avaliar se fomos felizes ou não. Ele diferencia bens exteriores e bens interiores, dando preferência aos bens da alma, pois o homem feliz vive bem e age bem. A felicidade é comparada às virtudes, à sabedoria filosófica ou prática, à prosperidade e à honra. É possível que ela – a felicidade – esteja um pouco em cada uma delas, mas Aristóteles vai um pouco mais além, e a define como virtude de ação e esta ação deve vir sempre acompanhada de prazer e alegria pelo que se faz. A felicidade é, pois, a melhor, a mais nobre e a mais aprazível coisa do mundo, e seus atributos não se acham separados, como na inscrição de Delos: “Das coisas a mais nobre é a mais justa; e a melhor é a saúde; mas a mais doce é alcançar o que amamos”. Mesmo necessitando de bens exteriores.

Por ser a melhor, a felicidade só pode ser dádiva divina. Contudo, para o filósofo, ela poderá ser conquistada também pelo estudo e diligência, pela prática de vida pública, orientando as pessoas para que sejam boas e capazes de nobres ações. Conclui-se, portanto,  que a felicidade não é um estado natural, mas fica a mercê de superar muitas vicissitudes da vida. Podemos então deixar o tempo correr docemente e estar sempre de prontidão, afinal todos assumimos um compromisso com o Universo e o mínimo a esperar é que sejamos coerentes com nossos princípios.